O Económico comparou os custos da compra de casa com os encargos totais caso a opção escolhida seja o arrendamento.
Se questionássemos as famílias portuguesas sobre quais seriam os desejos que gostariam de realizar, provavelmente no topo das preferências surgiria a compra de casa. Contudo, este desejo parece cada vez mais difícil de concretizar. Os bancos estão a endurecer as condições de acesso ao crédito à habitação - a principal alternativa que os portugueses dispõem para comprar casa - e as taxas de juro estão a subir. Também o recente memorando de entendimento entre a "troika" e o Governo promete eliminar ou reduzir substancialmente alguns incentivos associados à compra de casa. Medidas que visam não só ajudar a "forrar" os cofres do Estado como estimular o mercado de arrendamento. Face a este contexto, o Diário Económico tentou perceber qual a melhor opção: comprar ou arrendar casa? Tendo em conta os cenários construídos, comprar resultou como a opção mais barata, sobretudo, para quem tenha poupanças e uma boa relação com o banco.
Para esta análise foi tida em conta a média dos preços de compra e arrendamento em duas zonas da cidade de Lisboa e Porto segundo dados facultados pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). Apesar destes serem os preços médios apurados pela associação, é importante salientar que é possível encontrar no mercado preços de arrendamento mais baixos.
Para um prazo de 30 anos contabilizamos quais seriam os custos totais da compra de casa com recurso ao crédito (incluindo comissões, despesas bancárias, seguros, IMT, IMI e obras) e foi feita a comparação com aqueles que seriam os encargos totais caso a solução escolhida fosse o arrendamento. Em qualquer dos oito cenários a compra resultou sempre na solução mais económica, com a vantagem acrescida de que se torna proprietário do imóvel. Nas simulações efectuadas através do simulador "Comprar ou arrendar: qual a opção mais vantajosa?" da Deco procuramos ter em conta as condições actualmente exigidas pelos bancos para a concessão de crédito. Entre elas, o facto de ser necessária uma entrada de 30% do valor do imóvel e um ‘spread' de 2,5%. Só não foi incluída a expectativa da evolução da Euribor. No caso do arrendamento foi considerada uma actualização anual das rendas à taxa de inflação de 2,5%.
Face a estes pressupostos, a opção pela aquisição de um T2 usado na zona do Lumiar em Lisboa avaliado em 202.690 euros, ao fim de 30 anos vai ter um custo total de 380.603 euros, quase 148 mil euros a menos do que os encargos totais do arrendamento. Já a compra de um T2 usado na zona de Cedofeita no Porto avaliado em 134.243 euros, permitiria poupar mais de 73 mil euros face ao custo total do arrendamento. No caso de se tratar de uma tipologia superior esta diferença de custos ainda é mais alarga. O principal inconveniente é que para cumprir com uma entrada de 30% do valor do imóvel o esforço financeiro também é mais elevado. No caso mais extremo que foi simulado- a aquisição de um T3 no Lumiar avaliado em 337.952 euros- o valor da entrada inicial teria de ser superior a 101 mil euros. Este valor será acessível a um pequeno grupo de pessoas.
Por isso, como explica economista da Deco, Vinay Pranjivan, "quem não tiver 30% ou 40% do valor do imóvel para dar de entrada, a compra de casa no actual contexto é desaconselhada face aos preços que os bancos estão a cobrar". O especialista alerta quem não tenha essa disponibilidade financeira a adiar pelo menos no curto prazo a decisão de compra de casa. Até porque a expectativa é que nos próximos tempos as taxas de juro e os ‘spreads' praticados pelos bancos sofram um agravamento face ao contexto de crise. Neste cenário, os encargos com as prestações também serão muito mais elevados. "Há que considerar se a pessoa é capaz de se endividar a taxas de juro actuais de 4%, mas que podem daqui a um ano passar a 6%", recomenda o economista da Deco. Por isso, quem pondera recorrer ao crédito à habitação deve analisar qual será a sua taxa de esforço não só com base na actual taxa de juro do crédito como também caso esta suba três pontos percentuais.
Diário Económico
23-05-2011
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