sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Conversas Temáticas – A família

Conceito histórico da família
O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também para a escravidão legalizada. Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna. Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor dos complexos industriais. Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de casa, integrando a população activa, e a educação dos filhos é partilhada com as escolas. Os idosos deixam também de poder contar com o apoio directo dos familiares nos moldes pré-Revoluções Francesa e Industrial, sendo entregues aos cuidados de instituições de assistência (cf. MOREIRA, 2001). Na altura, a família era definida como um “agregado doméstico (…) composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada” (MOREIRA, 2001). Nesta definição, nota-se a ambiguidade motivada pela transição entre o período anterior às revoluções, representada pelas referências à família alargada, com a tendência reducionista que começava a instalar-se reflectida pelos vínculos de aliança matrimonial. Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um grupo de pessoas de mesmo sangue, ou unidas legalmente (como no matrimónio e na adopção).
A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, económicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.
Assim, a família deverá ser encarada como um todo que integra contextos mais vastos como a comunidade em que se insere. De encontro a esta afirmação, JANOSIK e GREEN, referem que a família é um “sistema de membros interdependentes que possuem dois atributos: comunidade dentro da família e interacção com outros membros” (STANHOPE, 1999).

1. Definição
A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimónio ou adopção. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes directos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.
Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interacção dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transaccionais. Assim, no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser formados pela geração, sexo, interesse e/ ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afectam e influenciam os outros membros. A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (MINUCHIN,1990).

2. Estruturas familiares
A família assume uma estrutura característica. Por estrutura entende-se, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989). Deste modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário. Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou monoparental, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional devido a fenómenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adopção de crianças por uma só pessoa. A família ampliada ou consanguínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Para além destas estruturas, existem também as denominadas de alternativas, sendo elas as famílias comunitárias e as famílias homossexuais. As famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças se cinge aos pais e à escola, nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais existe uma ligação conjugal ou marital, por contrato entre duas pessoas do mesmo sexo, que adoptaram crianças ou, um ou ambos os parceiros têm filhos biológicos de casamentos heterossexuais (Idem).

3. Importância da Família no desenvolvimento da criança
Todos nós somos influenciados pelos outros que nos rodeiam. As crianças não são excepção, mas estas ao contrário dos adultos, que estabelecem um número de relações superior com membros fora da família, estabelecem grande parte das suas relações com a família.

A família tem assim um papel muito importante no desenvolvimento da criança, pois para além de satisfazer as necessidades básicas da criança proporcionam também experiências fundamentais na construção de afectos, na apropriação de conhecimentos socioculturais (ex: hábitos, tradições, regras, valores, costumes, formas de agir, etc). As experiências que a família proporciona às crianças fornece-lhes ainda, conhecimentos importantes para as relações pessoais que iram estabelecer ao longo da vida e têm um papel importante no desenvolvimento do seu pensamento (ex: aquisição da linguagem, representações de acontecimentos, etc).
Desta forma, podemos dizer que as práticas educativas, dos pais, têm muitas implicações no comportamento dos filhos. Como nem todos os pais utilizam as mesmas práticas educativas, alguns autores dividiram os pais em três tipos:

Pais Autoritários - são pais muito controladores e exigentes, recorrendo frequentemente a castigos. Na relação que estabelecem com os seus filhos existem muito poucos momentos de comunicação e de manifestação de afecto.

Os filhos deste tipo de pais tendem a orientar os seus comportamentos de acordo com os castigos e recompensas administrados pelos pais, tem poucos comportamentos anti-sociais com medo de serem castigados. Normalmente, são crianças com baixa auto-estima e dificuldades em estabelecer relações com amigos.

Pais Permissivos – são pais que transmitem muito afecto e comunicam bastante com os seus filhos, mas dão-lhes pouca responsabilidade, orientação e regras.

Os filhos deste tipo de pais tendem a ser irresponsáveis, imaturos e manifestam pouco interesse, auto-controlo e empenho na realização de tarefas.

Pais Democráticos – são pais compreensivos e afectuosos com os filhos. Impõem o cumprimento de regras, mas estas são discutidas e explicadas às crianças. Estes pais promovem o diálogo e a responsabilização das crianças.

Os filhos deste tipo de pais tendem a ter regras e valores morais, são frequentemente crianças confiantes, afectuosas, persistentes, interessadas, curiosas e com facilidade em cooperar com os adultos e colegas.

O feedback que os pais dão aos filhos tem um papel importante na motivação das crianças. (ex. “Estou muito orgulhosa de ti”; “Estou muito contente contigo”, em situações em que a criança faz algo que seja de agrado dos pais).

Os pais também podem ajudar no desenvolvimento do pensamento das crianças, para isso os pais podem fazer as seguintes verbalizações e pedidos às crianças:

- Comparar elementos (ex: “Este é grande e aquele é mais pequeno; Este carro é igual ao nosso).
- Antecipar acontecimentos futuros (ex: “O que é que achas que vai acontecer agora?”).
- Recordar o passado (ex: “Lembraste de ter visto uma coisa igual a esta?”).
- Procurar alternativas para resolver problemas (ex: “Será que posso arrumar isto de outra maneira?”).


Atitudes Paternais Negativas

1. Pais que não sabem nada dos filhos e mal lhes dedicam tempo.
Efeito: Os filhos deixam de ver a casa como um lar, mas como uma simples residência, um hotel – Desintegração dos laços de confiança familiar.

2. Pais dominadores, possessivos, autoritários, excessivamente severos e exigentes.
Efeito: Podem tornar os filhos impulsivos, agressivos, inseguros e instáveis. Estas características promovem dificuldades de adaptação aos grupos de brincadeiras, de estudo e às amizades.

3. Pais exageradamente protectores.
Efeito: Ao resolverem todos os problemas dos filhos, as crianças tornam-se excessivamente dependentes dos outros. Solicitando sistematicamente de atenção, aprovação e ajuda dos outros. Não sabe iniciar actividades próprias, nem lutar para vencer dificuldades.

4. Pais permissivos.
Efeito: Os filhos tornam-se fracos e egoístas. Esperam uma atenção contínua dos outros e não sabem aceitar a frustração de um desejo, levando-os a reagir de forma impaciente e agressiva. Problemas de adaptação à sociedade.

5. Pais indiferentes para com os filhos.
Efeito: As crianças tornam-se tristes, pouco cordiais e evitam situações de convivência. Esta rejeição diminui a auto-estima dos filhos, a segurança em si mesmos, que pode levar a condutas anti-sociais, de forma a descarregar a agressividade acumulada ou chamar a atenção dos outros.

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